A ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, passou hoje mais um atestado (se bem que apenas implícito) de incompetência ao MPLA. Falando hoje, na vila da Muxima, município da Quiçama, a ministra disse que o governo está a trabalhar para a estabilidade social das famílias, com a execução de programas destinados a melhoria das condições sociais básicas. Em bom (ou mesmo mau) português ela reconheceu que apesar de estar no governo há 44 anos, o MPLA só tem olhado para as… suas famílias, esquecendo as outras.
De acordo com a sempre estridente, mas igualmente inócua, propaganda do MPLA, para a melhoria da vida nas comunidades, o Executivo tem em acção o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), que prevê 1.700 projectos nos sectores da saúde, educação, construção e obras públicas, infra-estruturas administrativas, estradas, energia e águas, segurança e ordem pública, urbanismo e saneamento básico, nos 164 municípios do país. Ou seja, tem em acção propagandística (como sempre teve desde 1975) a promessa que o paraíso está aí mesmo ao dobrar da esquina.
O valor total do PIIM é de dois mil milhões de dólares, provenientes (não se sabe com que critério ou legitimidade legal) do Fundo Soberano. Este plano congrega necessidades e iniciativas dos municípios ajustadas às prioridades locais e aos anseios da população. Mas afinal o dinheiro do Fundo Soberano foi roubado ou não, por José Filomeno dos Santos e Jean Claude Bastos de Morais, razão que os levou às masmorras do regime, depois da suspeição do Presidente da República?
De acordo com Carolina Cerqueira, que falava à imprensa no final da missa de encerramento da peregrinação da Muxima, é objectivo do Estado (há 44 anos e provavelmente durante os próximos 56) trabalhar para o bem comum e defesa do interesse nacional, procurando soluções rápidas para a resolução dos inúmeros problemas sociais.
Para a ministro, “inúmeros” significa muitos vezes muitos (de todos os angolanos), ou apenas os que contabilizam a rapaziada do seu partido e que ainda estão um pouco distantes das tetas do Governo/Estado/MPLA?
Para o efeito, Carolina Cerqueira benzeu-se e avançou que o Governo (o tal que está no Poder há 44 anos) espera contar com parcerias rápidas e inclusivas para dar respostas às ambições e aspirações da juventude e a defesa dos direitos das mulheres. Mais uma vez, e pela boca (sagrada) de uma ministra se ficou a saber que, fora do MPLA, ninguém escapa à crise: velhos, novos, mulheres, crianças…
Carolina Cerqueira considerou a Igreja Católica como uma das parceiras mais fortes do Estado angolano, garantindo que se vai encontrar novas formas de intervenção social, para ajudar a resolver os problemas da sociedade, fortalecer o papel das família e o crescimento do país a crescer em paz e prosperidade.
A Igreja Católica? Contrariando os seus mais basilares princípios, a Igreja Católica angolana está (quase) sempre, regra geral de forma encapotada e por isso cobarde, “vendida” ao regime, sendo conivente nas acções de dominação, de prepotência, de desrespeito pelos direitos humanos. Aliás, a tese da libertação foi há muito manda às malvas pela hierarquia católica.
A ministra reiterou a necessidade do resgate dos valores morais, estabilidade social, concórdia, perdão e, sobretudo, a educação da juventude. Ou seja, reiterou a necessidade de os angolanos, sobretudo os 20 milhões de pobres e todos aqueles que são gerados com fome, nascem com fome e morrem com fome, resgatarem aquilo que nunca souberam o que é.
Relativamente ao conteúdo da mensagem expressa durante a homilia, proferida pelo bispo Dom Emílio Sumbelelo, afirmou que serve de incentivo para que a construção de uma paz socialmente justa seja efectiva.
Assistiram à missa de encerramento da peregrinação, entre outros, as ministras dos Desportos, Ana Paula Sacramento Neto, e da Cultura, Maria da Piedade de Jesus, a secretária do Presidente da República para os Assuntos Sociais, Fátima Viegas, e o vice-governador provincial, Dionísio da Fonseca.
Já que a ministra falou da Igreja recordemos agora e sempre Frei João Domingos quando afirmou que os políticos e governantes angolanos (do MPLA, porque são os únicos que estão no governo) só estão preocupados com os seus interesses, das suas famílias e dos seus mais próximos.
“Não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida”, disse Frei João Domingos, acrescentando “que muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”.
Por tudo isso, Frei João Domingos sempre chamou a atenção dos angolanos, de todos os angolanos, para não se calarem, para “que continuem a falar e a denunciar as injustiças, para que este país seja diferente”.
Tendo em conta a crise de valores em que o país se encontra, Frei João Domingos sempre recomendou aos angolanos sem excepção para que pratiquem os valores que Jesus Cristo recomenda: solidariedade, justiça, amor, honestidade, dedicação ao outro, seriedade, paz, vida, etc..
“O Povo sofre e passa fome. Os países valem pelas pessoas e não pelos diamantes, petróleo e outras riquezas”, dizia também Frei João Domingos.